Alonso Gonçalves
“Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” – Tem como fundo exegético a percepção de que Jesus é a verdade, em virtude de nele residir a realidade divina do amor. Assim, com sua atividade em favor do outro, ele (Jesus) manifesta o amor de Deus. Portanto, para conhecer a verdade é preciso entrar em contato com ela, a verdade, que é Jesus. Com isso, a discípula e o discípulo de Jesus experimentam os efeitos desse amor que é o encontro da realidade divina com a humana. Uma vez conhecendo a verdade (a mensagem de amor proclamada por Jesus), ela liberta da mentira na teologia joanina. Mentira que tem um “pai” que trabalha para diminuir a vida do ser humano, tornando-o escravo da mentira.
Filosoficamente, a verdade é a adequação que o indivíduo faz entre o intelecto e a realidade, portanto a verdade é uma propriedade do juízo e este, o juízo, é capaz de diferenciar o falso do verdadeiro. Aprofundando um pouco mais essa noção de verdade no Ocidente, está se dá quando há um consenso ou acordo em sociedade quanto ao aceitável enquanto normas de conduta, algo estabelecido culturalmente para um determinado grupo social. No caso do Brasil, cultural e religiosamente cristão, a verdade se dá a partir de uma ordem vigente que tem na tradição judaico-cristã (cristandade) o seu consenso entre verdade e mentira. A verdade (real), nesse sentido, é contrária à mentira (falso), mas para dizer a verdade é preciso o juramento, pelo menos nos tribunais. Sendo o juramento algo tipicamente teológico.
Nesse tempo identificado como “pós-verdade”, a verdade passa por uma espécie de metamorfose quando diante de uma necessidade coletiva e/ou subjetiva que atenda os ideais de um segmento social com o intuito de obter poder.
Quando um texto como de João 8,32 é usado de maneira exaustiva por um político, não está se pensando no sentido joanino, antes, a intenção clara é capturar evangélicos para um propósito eleitoral, apenas isso. Desavisados podem até serem tragados por essa tática, mas quem vive a verdade de Jesus como está no Evangelho de João já percebeu que o texto bíblico trata da verdade que é caminho e vida, principalmente essa última, vida, que foi brutalmente vilipendiada por quem usa João 8,32.