SAÚDE EM NÓS

Por Remy Damasceno Lopes

Em tempos de pandemia, a saúde se tornou assunto público. Todos ansiamos por informações e, ainda mais, soluções. Aprendemos que na pandemia só haverá saúde em liberdade, se ela for coletiva. Se não for para todos, ou quase todos, a saúde será saudade dos tempos em que abraços só eram temidos quando falsos.

A saúde de interesses privados, egoisticamente pensados e buscados, compromete a saúde até mesmo de quem não enxerga seu adoecimento. Aprendemos na pandemia que se o sofrimento do outro nos atinge. E se a dor do outro não dói em nós, significa que a doença nos atingiu, matando o melhor de nós. Se não for para todos, ou quase todos, a saúde será saudade dos tempos em que as boas festividades exigiam a presença de muitos.

A saúde coletiva transformada em plataforma política, maquiavelicamente administrada, adoece corpo e alma. Distancia quem se encontra no mesmo sofrimento, sob as mesmas dores, mas vivem como se habitassem mundos distintos, como se fossem inimigos. Aprendemos na pandemia que saúde só para si produz a proliferação de doença, surpreendente em sua força mutante que a todos atinge. Se não for para todos, ou quase todos, a saúde será saudade dos tempos em que se compartilhavam os risos, sem freios, convidativos à vida.

A saúde é sonho coletivo. A saúde solitária, adoece. A saúde exige que seja em nós. Tecidos, tramados com inteligência e afeto para que os sonhos se renovem e os encontros se multipliquem. Aprendemos na pandemia que a ausência adoece, que a saúde convida ao compartilhamento. Se não for para todos, ou quase todos, a saúde será saudade dos tempos em que o coração aquecia pelo contágio da alegria pulsante dos encontros.

A saúde coletiva, disponível a todos, plenamente pública em seu acesso, se for excluída dos discursos cristãos, converterá as boas notícias de Jesus em religiosidade que prescreve ritos, que esquece vidas. Aprendemos na pandemia que há cristãos que confundem cruz com adoecer. Desligam de seu amor a dor do padecimento alheio. Se não for para todos, ou quase todos, a saúde será saudade dos tempos em que cristãos abriam as portas num convite à vida, que sonhavam Jesus e abraçavam amor.

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