RENDER-SE AO SENHOR DA VIDA SEMPRE, AOS SENHORES DA MORTE JAMAIS

Por Pr. Torres

Neste domingo celebramos a ressurreição de Jesus, o segundo dos dois fatos centrais do
cristianismo, precedido da afirmação do seu nascimento, sem o que não teria sentido falar
de ressurreição.
O senhorio de Cristo, por sua vez, exposto como princípio que emana de tudo que foi a
vida de Jesus e seus ensinamentos, e uma vez aceito e proclamado pelos seus apóstoços
e discípulos, nas páginas do Novo Testamento, tem sido reconhecido e apregoado pelos
cristãos em toda a história do cristianismo.
A ressurreição de Jesus, testemunhada por muitos, conforme nos é mostrado nos
evangelhos e referido pelos apóstolos em suas epístolas, apela-nos à exigência da fé, à
dimensão do crer nele como aquele que merece a nossa confiança, a partir de suas
próprias promessas, e a quem devemos creditar a nossa salvação da escravidão do
pecado, para que possamos viver na liberdade que ele nos veio trazer. Crer nisso,
segundo o pensamento cristão, é fator essencial para alguém ser identificado como cristão.
Já o senhorio de Cristo ou o compromisso de obediência incondicional a ele, apela à
nossa fidelidade radical e à rejeição de qualquer outro senhor, seja humano, seja feito por
mãos humanas, seja institucional, seja político, seja religioso que demande de nós
qualquer posicionamento conceitual ou submissão que contrarie o que entendemos serem
as demandas do Senhor Jesus, especialmente as exemplificadas em sua vida e seus
ensinos. A confissão de Jesus como Senhor e o consequente compromisso radical com
sua vontade é o segundo fator essencial que identifica o cristão.
Expostas essas considerações preliminares passaremos a apreciar o senhorio de Cristo, a
partir de algumas implicações da ressurreição de Jesus que, uma vez morto e sepultado,
ressuscitou, como havia dito, e Deus, o Pai, o fez nosso Senhor e Salvador, como disse o
apóstolo Pedro, no sermão do Pentecoste: “Deus ressuscitou a este Jesus, do que todos
nós somos testemunhas… Saiba pois com certeza toda a casa de Israel que a esse Jesus,
a quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo”. (Atos, 2:32 e 36).
1- Render-se ao senhorio de Cristo implica em assumir, conscientemente, toda a
radicalidade derivada deste compromisso, como maximamente exemplificado na vida de
Jesus que, referindo-se à sua submissão ao Pai, disse: “A minha comida é fazer a vontade
daquele que me enviou, e realizar a sua obra… Porque eu desci do céu, não para fazer a
minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou”. (João, 6:38 e 4:34)
Jesus, no momento mais crucial e aflitivo da sua vida, não desejando, pessoalmente a
cruz, pediu ao Pai que, se possível, a afastasse dele. Mas, em sua oraçao, a radicalidade
do seu compromisso com a vontade do Pai, assim se expressava: “Entretanto, seja feito
não o que eu quero, mas o que tu queres”. E depois, obedientemente e com todos os
riscos e sofrimentos que isso implicaria, entregou-se ao cumprimento da vontade do Pai
em sua vida.
2- Render-se ao senhorio de Cristo implica em reconhecer um só senhor absoluto, uma
única autoridade absoluta na vida, cuja vontade deve ser sempre por nós conscientemente
escolhida e obedecida, não importando as circunstâncias, riscos e pretensas autoridades
absolutistas que demandem de nós obediência ao que contrarie a vontade do Senhor
Jesus Cristo.

Em meio a conflitos que tais secundárias demandas possam produzir, a nossa decisão,
como a dos apóstolos Pedro e João, se coerente, deve traduzir-se nas palavras deles às
autoridades que, diante do nome de Jesus que perturbava as elites religiosas e políticas de
então, lhes impunham não mais falar dele e de sua ressurreição: “ E, chamando-os,
disseram-lhes que absolutamente não falassem, nem ensinassem, no nome de Jesus.
Respondendo, porém, Pedro e João, lhes disseram: Julgai vós se é justo, diante de Deus,
ouvir-vos antes a vós do que a Deus; porque não podemos deixar de falar do que temos
visto e ouvido. (Atos 4:19-20)
3- Render-se ao senhorio de Cristo implica em reconhecer um único infinito e absoluto em
nossas vidas, e ver todos os outros que tenham esta pretensão como relativos e finitos. E
em os ver, também, como ambíguos, como incapazes do bem absoluto, e totalmente
capazes de num momento paraticarem o bem e, noutros momentos, o mal.
Assim são todos os líderes e governantes, em todo o mundo, que estejam impondo ou
querendo impor sua vontade, autoritariamente, aos seus liderados e, assim, colocá-los em
condições de submissão indignas da sua humanidade.
Cristo, o nosso Senhor, em seu caráter é amor e bondade, é fiel às suas promessas e
integro, podemos nos realionar com ele confiantes de que, da parte dele somente o bem
nos alcançará e nenhum mal dele nos advirá. Como bem disse, seu “jugo é suave” e seu
“fardo é leve”, como leve e fascinante é a liberdade que nos veio trazer.
O senhorio de Cristo deve levar-nos à rejeição de quaisquer autoridades autoritárias, de
mitos e gurus, sejam eles religiosos, políticos, ideológicos e, até mesmo, familiares. Isso
implica numa permanente vigilância crítica que nos permita, diante dos menores sinais de
autoritarismo, nos insurgir, ofercendo-lhes nossa apreciação crítica e, se perdurarem no
seu erro, trabalhar para impedir, em termos condizentes com a ética cristã, que continuem
fazendo mal aos outros.
4- Render-se ao senhorio de Cristo, por último, mas não exautivamente, e em respeito ao
espaço que me foi dado, implica em procurar viver toda a vontade de Jesus, de forma que
sua presença e sua influência transformadora sejam reconhecidas em nossas vidas e na
vida das comunidades ou igrejas cristãs das quais sejamos parte. É procurar ser o próximo
do nosso próximo; é lutar contra todas as injustiças e desigualdades; é viver de tal modo
que todos vejam Cristo em nós. É viver, simplesmente viver a vida em Cristo e sob o seu
senhorio, simplesmente porque já não nos é possível ser e viver de forma diferente, tal a
transformação radical e profunda que sua presença regeneradora e o viver sob seu
senhorio nos trouxeram.
E, pela libertação que Jesus Cristo nos trouxe, vista com maior clareza na sua vitória sobre
a morte, na sua ressurreição, sigamos em frente até que, vitoriosos, entoemos
permanentemente este cântico de vitória: “Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está,
ó inferno, a tua vitória? Ora, o aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei.
Mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo. (1Coríntios, 15:55-
57)
Continuemos,pois, vivendo intimorata, vitoriosa e permanentemente, até “que toda a língua
confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.” (Filipenses 2:11)

One thought on “RENDER-SE AO SENHOR DA VIDA SEMPRE, AOS SENHORES DA MORTE JAMAIS

  1. Mais um excelente texto que nos inspira a continuar rendendo Graças ao SENHOR DA VIDA. Parabéns aos autores do Movimento Batista por Princípios. Feliz Páscoa!

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