A PÁSCOA CONTRA O MACHISMO

Por Anderson Nunes

Uma das coisas que me encantam em Jesus é o modo como ele tratava as mulheres no contexto extremamente machista da Palestina do Séc. I. O relacionamento com Maria Madalena é um exemplo. Alguns dizem que ela teria sido mais que os evangelhos mostram e que estes não o teriam mostrado por causa do machismo vigente. Por exemplo, que ela teria sido a 13ª dos apóstolos ou que teria sido mulher de Jesus. Fora o fato de não constar na Bíblia, essas hipóteses não me parecem sustentáveis pela natureza itinerante do ministério de Jesus. Não seria aceitável que uma mulher vivesse andando para lá e para cá com 12 homens: logo, logo, Maria seria socialmente execrada. Também não daria para conciliar atividades messiânicas com atividades conjugais, incluindo a criação de filhos, lembrando que Jesus ainda tinha um mãe com quem se preocupar. Não seria uma projeção dos ideais modernos ver Maria Madalena dessa forma? Ela não poderia ter sido uma líder sem ser apóstola? Ela não poderia ser íntima de Jesus sem ter com ele vida sexual? Entretanto, nenhuma especulação é necessária para reconhecer o quanto este relacionamento estava à frente do seu tempo. Maria Madalena foi a primeira a ver o Cristo ressuscitado: não precisaria ter sido ela a primeira a ter este privilégio. Para quem sabe da importância da ressurreição na fé cristã, sabe que isto está longe de ser pouca coisa. Porém, o mais importante veio depois. Ela e outras mulheres a quem Jesus também havia aparecido (duas delas identificadas pelo nome) foram enviadas para dar a boa notícia aos discípulos. Na cultura judaica, um testemunho seria válido se tivesse duas ou três testemunhas, mas com um detalhe: desde que elas fossem homens. A despeito disso, Jesus as envia. Este gesto em si mesmo já é uma mensagem em que ele diz: as mulheres são dignas da minha confiança e são tão confiáveis quanto os homens. Infelizmente este sub-texto não foi entendido juntamente com o seu texto: não reconheceram a sua autoridade. Foi somente quando dois homens foram à sepultura e conferiram os fatos que os discípulos puderam acreditar. Pior para eles: poderiam ter experimentado a mesma alegria bem antes. A história se repete hoje. Deus vocaciona e envia mulheres para todas as áreas e todas as funções, sem exceção. Mas muitos homens ainda não aprenderam a lição deixada por Cristo na Páscoa. Para estes é fácil acreditar em vida após a morte, mais é difícil, ou mesmo impossível, acreditar na igualdade de valor e de potencial das mulheres. Pior para eles.

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