Por Samuel Hansley
- Uma das mais presentes críticas sociais feitas nos dias de hoje ao se referir a alguém ou um grupo de “negacionista”, como aquele que de maneira simples nega um conjunto de informações que até recentemente estavam bem assentadas nos manuais, nas normas e códigos, fazendo com que se descreia do que antes era bem aceito. Desta forma os cânones científicos, entre outros, têm sofrido as descrenças, quase no mesmo nível que a religião teve que lidar desde as primeiras épocas da modernidade.
Entre nós, existem aqueles que pensam que o fato de levantar dúvida sobre um preceito legal, social ou científico equivaleria a apresentar uma posição discordante no campo das discursões em busca do que poderia ser admitido como verdade, desta maneira, quanto mais ponto de vistas melhor seria. Todavia, não é disso que se trata quando falamos de negacionismo. Não se trata afirmações dentro de paradigmas diferentes, em que somente após um estudo criterioso, levando-se aspectos diversos e opiniões se buscaria a verdade.
O negacionismo é uma estratégia dos “mercadores da dúvida” (PITTGLIANI, 2020). Mais do que o antigo sofista, o negacionista não somente tem o objetivo de “induzir ao pensamento tido como equivocado”. O negacionista em um propósito de amealhar ganhos sejam eles políticos, econômicos, sociais e outros. No negacionismo teorias conspiratórias são elencadas no mesmo pé de igualdade com explicações e elucidações bem trabalhadas. O propósito é “desestruturar as vias de acesso ao conhecimento para a população em geral”. O negacionista tem o desejo de transformar o campo de debate do conhecimento em uma rixa de ideologias, uma guerra de narrativas, onde “formas jurídicas de verdades” são postas em um malabarismo conceitual.
Segunda a história, o argumento negacionismo teve a sua fase inaugural nos Estados Unidos da América nos anos 50, no contexto da propaganda da indústria de tabaco, em meio à campanha de que o tabagismo era nocivo à saúde. Deste modo, o marketing tabagista teria “desenvolvido um manual de relações púbicas que contra-atacasse ‘às evidências científicas’ com que viesse a beneficiar a dúvida” (PITTGLIANI, 2020).
O negacionismo não pode ser considerado a mentira que se opõe a verdade, mas antes deve ser vista como a mendacidade e a falsidade em camadas, como a cebola que descascamos, e lentamente vai afetando-nos, sem que tenhamos dos dados conta dos motivos de nossa reação. Trate-se de uma pós-verdade, que coloca no mesmo patamar verdades, opiniões e crenças pessoais. Além de estratégia, é também uma tática fria e oportunista que não mede os resultados das decisões tomadas a partir dela. Por isto, precisamos ver que é sempre muito ruim ficar na situação de não saber o que está por trás das afirmações feitas em nosso em torno.
É sempre importante adquirir um critério que ajude a lidar com estas ocorrências. Com certeza foi Jesus quem melhor lidou como o negacionismo. Pois Jesus, cheio do Espírito Santo, quando foi levado ao deserto e foi tentado por Satanás da seguinte forma:
Levou-o também a Jerusalém, e pô-lo sobre o pináculo do templo, e disse-lhe: Se tu és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo, porque está escrito: Mandará aos seus anjos, acerca de ti, que te guardem e que te sustenham nas mãos, para que nunca tropeces com o teu pé em alguma pedra. E Jesus, respondendo, disse-lhe: Dito está: Não tentarás ao Senhor, teu Deus. (ARC, 2011, Lucas 4,9-13, p.1334).
Jesus foi colocado em uma situação em que muitas vezes, pensamos ser única, mas ao contrário, faz parte da vivência do nosso cotidiano: estarmos diante de Satanás, na condição de sermos tentados. Isto faz parte de ser humano. Ninguém pode evitar isto. No entanto, diante da ação venenosa do Diabo, Jesus assumiu uma atitude totalmente diferenciada. O Diabo lhe disse: “lança-te daqui abaixo…”. Além da injunção apresentada, o Diabo ofereceu razões incontestáveis para a realização de tal proposta, “porque estava escrito”. Era nas Escrituras Sagradas que ele se baseava. Era a Antigo Testamento que afirmava (Salmos 91,12). Havia uma palavra bíblica que garantia que: “‘Á)’quele que habita no esconderijo do Altíssimo (…) Mandará aos seus anjos, acerca de ti, que te guardem e que te sustenham nas mãos…” (ARC,2011, Salmos 91,12, p.824)
Jesus não duvidou da verdade daquelas palavras. Mas entendeu como aquele citado na boca do Diabo apresentava diversas camadas, cuja à última delas era tentar contra a autoridade e a sabedoria de Deus. Jesus não pulou porque não tinha medo de cair, mas porque desconfiava da verdade de Satanás. O que estava em jogo era a vontade de Deus.
Se alguém nos disser que não devemos tomar vacina, porque a Bíblia diz que o “Senhor é o médico dos médicos” precisamos perguntar se não estamos diante de uma pós-verdade. Será que a Palavra de Deus nos traz este tipo mensagem para que nos tornemos vaidosos, que nos movamos por jactância? Qual a última camada desta afirmação, o que em última análise quem fala ganha ou perde ao dizê-los. Precisamos sempre pensar nisto.
Excelente texto, em tempos onde a mentira segue sendo propagada nos púlpitos das igrejas, ter uma palavra de confronto é fundamental para quem se mantém lúcido .. é luz ,seja profeta de Deus ,denunciando a injustiças no meio do povo para que ninguém nos engane. Que Deus te abençoe
Artigo instigante.